José Pereira

(suicídio)

 

1ª Tratamento, 25/02/2013      

“Quando não cabe mais responsabilidade faz-se o quê?

Quando se deixa de ser o que se quer.

Quando a angustia e a ansiedade tomam conta de nós.

Fugi ao emocional, agarrei me unicamente à “realidade” do dia-a-dia.

Eu precisava do emocional, e esse era um desconhecido para mim.

É como se eu tivesse fugido para mim, e fugido a tudo, que não controlava.

É como estar num quarto fechado com coisas que nos fogem ao controlo, à nossa realização, ao ficarmos bem com o que somos e fazemos, e não poder fugir do quarto.

Onde está o meu contentamento?

Não é neste quarto que tudo me persegue. E eu não conheço mais nada fora deste quarto. Como fugir?

Como estar fora deste quarto e continuar a ser eu.

Eu não sei viver sem isto. Tudo que é da minha responsabilidade cola se à pele e sufoca-me. Eu já não sei viver mais sufocado.

Conseguisse eu entender e conhecer uma maneira de deixar o corpo aqui, e ir passear para descansar de tudo o que sou. É isso que me faltava.

Eu e as coisas, eu e o trabalho, eu e as responsabilidades, eu e o que não consigo resolver.

Como poderia ser eu? Ter continuado a ser eu separado dos problemas.

Tudo me afogou. Eu fui forçado a deixar-me afogar por tudo isto.

Será que se pode rir com problemas, com incapacidades, com ansiedades, com faltas de resoluções de respeito, de todas as coisas da vida?

Será que podemos aprender a ter um sorriso por dentro, que se veja cá fora, independentemente de tudo? Aprender que a própria felicidade nada tem a ver com os problemas.

Eu sei agora que isso não aprendi.

Poderei passar para muitos? Não se deixem afogar. Os problemas existem sempre. Umas vezes maiores outras menores. Mas só temos que separá-los de nós, senão eles levam-nos na corrente.

E nós não somos lixo que vai no leite do rio.

Que cada um aprenda a não ser lixo. Que aprenda a ser pessoa viva, cheia de vida para passar aos outros a se respeitarem.

Não deixem as coisas tomarem conta da vossa vida. Vocês existem com coisas ou sem coisas. É preferível quando não aguentas, parares. Mudar, aprender a perceber que nós somos vida para viver e não lixo para ser afogado.

Mas não pares a vida. Não vivas atulhado.

Foge para o campo, vai rir e correr. Esquece as coisas.

Não insistas em querer que tu e as coisas sejam um só.

Vês como eu aprendi? À força.

Vocês todos que são mais jovens. Não deixem os problemas da vida vos afogar. Ajudem se, protejam-se, mas primeiro dêem valor à vida vivida, ao sorriso, à alegria de viver.

Amanhã vem uma chuvada e leva todos os problemas. Ou se não entenderes, leva-te a vida.

Aprende com os exemplos como o meu. São só falta de entender a vida.

Quem é que me pode proibir de rir e ser feliz, só porque não posso comprar as calças de marca, ir onde alguns vão, ser o que alguns são?

Eu posso ser feliz sem coisas, sem passeios.

Ou posso morrer por não ter essas coisas.

A escolha é nossa. A vida é nossa.”

 

2ª Tratamento, 27/04/13

"Andam todos enfeitiçados uns com os outros. A viver o feitiço do que tem que ser, porque eu quero.

Dizem aos outros o que querem ouvir. Fogem ao que não querem ouvir.

Só faz de conta, conforto enganoso, mas tão saboroso.

Quanto tempo vai isto durar?

Enquanto estiverem na casa dos pais. Enquanto se forçarem a esquecer o que os pais obrigatoriamente têm de lembrar.

Quando a saída acontecer é o vazio. O trambolhão pela certa.

As experiências que deveriam ir vivenciando aos poucos, aparecem todas como avalanche.

Ai que o mundo é tão mau!

Qual mundo? O que quiseste esquecer? Onde andaste tu? Onde te refugiaste? O que ganhaste?

Tanto que perdeste!

Agora entras no rol dos revoltados. Agora tens as experiências aos trambolhões.

Como não fostes, nas calmas, encaixando na real.

Porque quando uma surge e é resolvida (o acontecimento/aprendizagem), cria uma estrutura para conseguir aprender a próxima.

E tu estás desestruturado. Fizeste crescer uma estrutura à tua maneira, numa boa.

E em revolta tu nunca mais irás perceber nada da vida. Porque revolta é agitação, é reação.

Se tu reages, crias condições em ti para não perceber. Se não perceberes crias condições para não perceber como resolver.

Este é o processo mais lindo da vida.

A possibilidade de resolver de outra maneira. Melhor ou pior.

O problema é que irritado tu não pensas, só foges.

Mas a vida é evolução. E evolução é aprendizagem e fugir é ignorar.

E o Universo como vive em evolução faz tudo por ti, para outro acontecimento e mais outro te dar.

O Universo só deseja que não reajas agressivo e que calmamente penses, noutra maneira de ver o assunto.

Descobre, tu és inteligente. Há sempre outra maneira de ver a vida.

O Universo força à descoberta. E tu vais descobrir que só sabias reagir ao que te doía e esquecias reagir com o teu amor.

Descobre, encontra o melhor que há em ti. Reage com amor.

Esquece os papéis dos mauzões que os outros fazem só para tu brilhares.

Vocês são tão poderosos.

Estão vivos podem escolher.

Escolham continuar a viver sorrindo."

Mensagens canalizadas por José e Palmira