Lúcia T.

(um familiar que partiu por doença)

 

1ª Mensagem,  27/08/2013

"Sabem o que é viver cá, com um pé no lado de lá. Sabem que há muitos que vivem cá e lá nas sombras, no mundo obscuro. A perdição. Sabem que há muitos que vivem cá roubando energia aos desgraçados de lá. Sabem que quanto pior cá ou lá se está, mais energia nos roubam? E não há quem pare isto. O problema é que ficam cá a sofrer igual a ai em baixo. O sofrimento, a sombra, a certeza do desespero continua. Quem nos ajuda? Merecemos ajuda? Quando perdidos na Terra andamos, porque nos fazem, temos que fazer pior, que sabor de energia malvada, que amargo na boca, depois fica o gosto e já não se passa, é até ver o outro pior. E ganha-se mais sabor azedo na boca. Amanhã vai acontecer acidente pela certa, vai haver desgraça, não falha, depois do amargo saboroso na boca, que consola a mente, depois da desgraça do outro, vem a nossa. E não pára. Quem pára isto? Depois passamos para cá e continuamos a fazer o mesmo, aos daqui e aos daí. Salteadores de vidas perdidas. Entramos de mansinho e torcemos a vida, roubamos energia. Já tenho pena deles. Mas acreditem, não há outro jeito. Tem que ser assim; nós não sabemos de outro modo ser.

Aí em baixo num instante e já está na mentira, no engano, já tinha roubado um bocado daquela outra vida. O trabalho que depois dá a preencher a vida que falta, a refazer a vida. Coitados que desespero. O nosso e o deles. Não há diferença. Todos roubados, todos de vidas e não vidas enrolados. Coitados de todos nós.

(depois de mais tratamento)

Se eu não roubar como me suster; vou roubar para poder ser.

É uma necessidade de todos. O que falta aí em baixo, que nos obriga a desrespeitar, mentir, maltratar os outros? Não é por dinheiro, muitas vezes. É porquê? Em nome do quê? Eu não quero entender, prefiro azedo ser, ver o outro infeliz. Que saber azedo que me enche, que me conforta. O que me falta que disto preciso? O que não consigo querer, outra coisa ser?

Consigo lembrar outros perturbados. Parece que os carrego todos. Parece que poderei algo fazer para isto não mais ser.

Como nunca tinha pensado assim? O que temos aí em baixo, que connosco continua, que de outra maneira não se consegue ver?

Eu faço o que sinto precisar, para mais confortável ficar, por hoje. Um dia de cada vez. Amanhã parece que vem o cobrador de impostos, que me leva o que saquei e de tragédia viverei. Coitados de nós, que não arranjamos maneira de ser diferente, sem tragédias, desejos macabros, horrores de mentes.

Pelo menos começo a pensar. Sinto que posso porventura, viver de outro modo. Como viver sem precisar de tirar, sem acontecer que nos tirem? Como fazer sem precisar de ver aos outros acontecer? Deixem-me ficar, talvez neste novo silêncio. O que é isto que chega? Que me faz interrogar o que antes achava normal, correto. Que sensação de tudo puder fazer para tranquila ficar, sem outros precisar de prejudicar. O que me enche e agrada que substitui a maldade, a sujidade?

Fico agora pensando em como dentro de mim se pode algo fazer, acontecer. Passo o tempo nestas divagações, que nada disto que vejo reconheço. Sensações novas a chegar. Identificações com o ambiente. Agrado com o que vejo que me faz diferente sentir. Afinal pode-se ser diferente. Não sei o que é, mas gosto, tranquiliza-me por dentro. Satisfaz, agrada. Parece que nada preciso de provocar acontecer. Lágrimas são minhas. Afinal ser isto é ser diferente. Agora posso ficar neste encanto de ver e sentir. Não sei o que muda mais rápido, eu por dentro ou tudo o que vejo e sinto?

Pudesse dar um pouco disto aos que muitas vezes deixava sem possibilidade de outra coisa ser. Talvez amanhã os possa consolar. Talvez... tudo muda tão rápido. Se calhar ainda hoje." 

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