Sofia (18 meses)
(a Sofia tinha apenas 18 meses quando partiu devido a afogamento acidental)
1ª Tratamento, 06/02/2013
"Porquê que a morte causa mais espanto que a vida?
Porquê que o deixar de cá estar mexe mais pessoas do que o estar?
Porquê que as coisas acontecem quando se deixa de existir?
Poderia antes ficar sem me olharem; agora olham todos o buraco vazio.
O que nos espanta, a vida ou a falta dela?
A minha consciência agora longe do corpo físico, é só consciência de identificação do que sou.
Alerta, atenção....eles ouviram. Estou calada, calei-me. Já podem olhar o buraco vazio.
Eles pensam todos que somos só aquele corpinho. Lá porque não falamos. Mas sentimos.
Sentimos muito antes de nascer. Não somos só "bubu, dada". Somos gente como vós. Que pertence, que sente o envolvimento.
Gente com desejos, com emoções. Gente viva. De carinhos afogados, penas, lamúrias esquecidas.
Estamos aqui com o mesmo propósito que o vosso. Só ainda não aprendemos a gritar.
Porquê que nos veem como coitadinhos?
A minha alma tem o tamanho da vossa.
Não me quero sentir no fim desta cadeia. Pudesse eu andar e ir à procura da vida. Pudesse eu ter asas e voar.
2º Tratamento, 19/02/2013
"Procuro asas mas parece que ainda é cedo.
Agora é ir tirando este azedo da boca. Este desejo de fugir voando.
Porquê que quando nos veem asas procurando, não redobram os carinhos? Não diminuem os afazeres.
É que os afazeres nunca param, há sempre que comprar; mas o tempo de receber carinho passa; e as lamentações aumentam.
E depois começamos a viver a lamentação e a esquecer o carinho. Carinho que passa, ai* que fica.
Desejam-se asas enormes para corpinhos pequeninos. É que as lágrimas são iguais. São iguais aos que fogem e aos que ficam.
Que ficam pensando fugir para sempre.
Banho** que acaricia mais que muitas mãos que fogem.
A questão muito importante que esta Luz me transmite é a continuação do amor.
Todos nós sentimos pela falta daqueles que amamos, um buraco na nossa energia de amor.
É como que: Há; deixa de haver; será que vem mais?; quando?; provavelmente acabou.
Todos sentimos estes altos e baixos desta energia. A necessidade de todos encontrarmos uma continuidade da nossa energia amorosa. Uma firmeza do amor recebido e emitido. Um envolvimento que nos segura e fortalece.
Um ar que se respira e nos faz voar, mesmo sem asas."
* (suspiro)
** (banho de luz violeta)
3º Tratamento, 28/03/2013
“A bruteza que é preciso ter para conseguir chegar a adulto.
Se nós juntássemos numa caixa, a bruteza que cresce connosco até à idade de adulto. A um bruto já bem formado.
Nem imagino o tamanho da caixa.
Mas muitos de nós sentimos esses movimentos e essas palavras. Nem é preciso entender para doer. Mas dizem logo, coitadinho não percebe nada. Mas sofre. Se percebesse ainda era pior.
É que anda meio mundo a tentar ser mais bruto que o outro.
Então se formos lembrando e juntando numa caixa enorme, toda a energia das nossas brutezas. Onde vamos todos guardar essas caixas? Caixas terríveis. Imagino se toda aquela bruteza rebentasse o que acontecia.
Nós esquecemo-nos que essa caixa está dentro de nós. Porque cada um, mesmo o melhor dos brutos, tem consciência e reconhece a energia que emitiu. A mente dele faz essa ligação. Esta memória ativa a ligação à nossa caixa.
Às vezes essas caixas rebentam e nós vamos parar ao hospital, outras vezes nem lá chegamos.
Mas ainda o pior é que as caixas de tão cheias que estão, vão perdendo e contaminando os outros.
Podíamos viver sem esta caixa?
Poderíamos não precisar de bruteza ser, para caixas encher?
Poderíamos ter fé, de que crescerão adultos com caixas mágicas, que libertam feitiços no ar e todos brincam e pulam à sua volta.
Gostava de um mundo com adultos, com caixas dessas.
Vou escolher a minha. Não cor-de-rosa transparente.
Vou deixar que a minha vida construa a sua cor.
Cor-de-rosa eu gosto. Cor-de-rosa por dentro e amor por fora, por todos os brutos insensíveis, incapazes, desrespeitadores, mandriões e outros que tais.”
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